O 11 de março de 2020 ficará marcado na história da humanidade. Naquele dia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou oficialmente a pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2), alterando severamente nossa convivência em sociedade e a forma como o mundo enfrentaria a crise sanitária. Como ser humano, profissional e gestor de saúde, essa lembrança traz à tona uma avalanche de emoções e desafios que viveríamos nos meses seguintes.
Jamais se pagará de minha memória o caos inicial e a necessidade de respostas rápidas na qual a sociedade exigia do setor saúde. Lembro-me da angústia coletiva que tomou conta da população, das incertezas que pairavam sobre o nosso sistema de saúde e da necessidade urgente de implementar medidas eficazes para proteger nossa comunidade. Todos tivemos que agir com rapidez e estratégia, sabendo que o tempo era um inimigo cruel.
Anápolis, polo estratégico e econômico de Goiás, viu-se diante de um cenário inédito que era se evitar uma explosão de casos, ocasionando restrição quase que completa do comércio e consequentemente a ampliação de leitos hospitalares, criação de fluxos para rastreamento e testagem em massa e capacitação de equipes para o enfrentamento do desconhecido.
Em meio ao caos, pudemos nos beneficiar do uso da tecnologia e da Inteligência Artificial no combate à pandemia. Uma das iniciativas que me enche de orgulho foi a criação do ZAP DO CORONA, um serviço inovador de rastreamento e acompanhamento domiciliar que aliava inteligência artificial e apoio multiprofissional para auxiliar pacientes com sintomas gripais e infecções.
Em um momento em que a distribuição de serviços de saúde era uma preocupação constante, o ZAP DO CORONA permitiu que a população anapolina recebesse orientações médicas sem precisar sair de casa. A ferramenta ajudou a desafogar as unidades de saúde e possibilitou um acompanhamento mais próximo daqueles que testaram positivo para a COVID-19, garantindo suporte contínuo e identificação precoce de complicações.
A ampliação da rede hospitalar, com a abertura de novos leitos exclusivos para o tratamento da COVID-19 também foi um marco importante na história da saúde coletiva em nosso município. Foi um desafio enorme garantir estrutura, equipamentos e profissionais preparados para lidar com a doença, mas Anápolis conseguiu entregar à população um suporte robusto no momento mais crítico da pandemia. Momento tão complexo onde insumos básicos como álcool e máscaras se tornaram escassos.
Além disso, o teste em massa foi uma estratégia utilizada que foi crucial para salvarmos vidas. Com a realização de milhares de testes, foi possível mapear a evolução da pandemia em Anápolis, identificar “surtos’ e adotar medidas de contenção eficazes. A organização de testes em larga escala também foi decisiva para salvar vidas e orientar nossas políticas de combate ao vírus.
A vacinação veio como a esperança de um novo amanhecer. Se os primeiros meses foram marcados pelo medo e por incertezas, 2021 trouxe uma nova esperança com a chegada das vacinas. Essa foi uma experiência desafiadora, mas extremamente gratificante. O setor saúde anapolino se destacou mais uma vez e pudemos organizar uma logística eficiente, com pontos estratégicos de vacinação, equipes preparadas e campanhas para conscientizar a população sobre a importância da imunização. Em poucos meses, conseguimos vacinar um grande percentual dos anapolinos, contribuindo para a redução de casos graves e óbitos. Sim, vacinas salvam vidas e nos retirou do cenário de angústias e incertezas que aquele 11 de março nos proporcionou.
Ainda vivemos a reorganização para a retomada pós-pandemia. A reestruturação dos serviços de saúde, a reabilitação de pacientes com sequelas da COVID-19 e o suporte à saúde mental da população são algumas das prioridades nessa nova fase. O aprendizado adquirido durante a pandemia serviu de base para aprimorarmos nossos sistemas de saúde e fortalecermos nossa capacidade de resposta a futuras emergências sanitárias.
Esses cinco anos nos trouxeram lições de resiliência e cooperação. A pandemia de COVID-19 foi, sem dúvida, um dos maiores desafios enfrentados pela humanidade nas últimas décadas e quiçá nos últimos séculos. Tivemos que reinventar, adotar novas tecnologias e apostar na ciência para proteger nossa população. O ZAP DO CORONA, a ampliação de leitos, a testagem em massa, a vacinação e a organização da retomada foram iniciativas que forjaram a união entre a gestão pública, os profissionais de saúde e a comunidade.
Hoje, ao olhar para trás, vejo que a dor e os desafios vívidos trouxeram também aprendizados valiosos. A pandemia nos mostrou a importância da ciência, da inovação e, acima de tudo, da solidariedade. Que essa experiência nos sirva como guia para construirmos um sistema de saúde cada vez mais forte, universal e humano.
Escrito por:
Danianne Marinho e Silva | @marinhodnaBacharel em Fisioterapia, especialista em gestão hospitalar e em regulação no SUS. É consultor de Gestão em saúde e Membro Associado da Federação Brasileira de Administração Hospitalar.
