A política brasileira é uma encenação perpétua da Paixão: temos Pilatos lavando as mãos em cada crise, Judas vendendo princípios por trinta moedas (ou ministérios), e um povo que, iludido por discursos messiânicos, grita “soltem Barrabás!” toda vez que troca o voto por favores, promessas vazias ou uma selfie com o salvador da vez.
Márcio Corrêa, por exemplo, em Anápolis, fez sua própria Via Crucis cenográfica: invadiu a UPA Alair Mafra como se expulsasse os vendilhões do templo, com câmeras a postos, marketing ensaiado e promessas messiânicas. Mas, no fim, foi só mais um espetáculo de sexta-feira — desses que emocionam na hora, mas deixam o povo sem atendimento na segunda.
O problema é que, no Brasil, a ressurreição nunca vem no terceiro dia. O país parece eternamente preso na sexta da paixão — e os crucificados, quase sempre, são os mesmos: o trabalhador, o doente na recepção da UPA, o jovem sem acesso à educação. Já os crucificadores trocam de rosto, de partido, mas não de atitude.
Enquanto isso, nossos “Messias” — de terno, gravata e sorriso treinado — sobem ao púlpito das redes sociais, distribuem milagres genéricos, prometem curas imediatas e salvação instantânea. E a cada quatro anos, o povo, em êxtase religioso-político, deposita mais uma vez sua fé num novo Cristo de palanque.
O Brasil precisa, urgentemente, parar de canonizar políticos e começar a cobrar políticas. Chega de adoração cega, chega de esperar milagres. Porque enquanto esperarmos por ressurreição, continuaremos a viver, todos os dias, a mesma paixão.