Anápolis está diante de uma ameaça real à sua autonomia na saúde pública. A adesão ao consórcio estadual, proposta que prevê a transferência da gestão do SAMU e de toda a Rede de Urgência e Emergência (RUE) para o Estado, representa não apenas um equívoco técnico, mas um grave retrocesso político e institucional.
Se confirmada, essa medida irá retirar da Prefeitura de Anápolis a responsabilidade sobre estruturas fundamentais como as duas UPAs municipais, o Hospital Alfredo Abrahão, o futuro Hospital Georges Hajar, a Maternidade Dr. Adalberto, além dos serviços contratualizados da Santa Casa e do Hospital Evangélico Goiano (HEG). O município perderá, na prática, o controle sobre a porta de entrada do SUS, exatamente onde o cidadão mais precisa de um atendimento rápido, eficiente e humanizado.
Mais preocupante ainda é o contexto por trás dessa movimentação. Há fortes indícios de que esse consórcio está sendo articulado diretamente pelo secretário estadual de saúde, Dr. Rasível, com uma única finalidade, a terceirização desses serviços por meio de Organizações Sociais. Trata-se de um modelo que já demonstrou, em diversas partes do país, fragilidades profundas no controle, aumento de custos, precarização do trabalho e distanciamento do interesse público.
A proposta sequer foi respaldada por estudos técnicos ou consultas públicas. Não houve qualquer pesquisa de satisfação com os usuários do SAMU em Anápolis, nem diagnóstico que comprove falhas graves de gestão que justificassem tal mudança. O que se vê, portanto, é um arranjo político-administrativo que visa centralizar o controle em Goiânia e abrir caminho para interesses privados.
Vale lembrar que o prefeito Márcio foi eleito com o compromisso de fortalecer a gestão municipal e garantir que os serviços públicos fossem conduzidos com responsabilidade, proximidade e transparência. Assinar esse acordo seria romper com tudo que foi prometido em campanha, e sem qualquer justificativa técnica que sustente tamanha entrega.
A saúde pública não pode ser negociada em gabinetes, muito menos utilizada como instrumento para terceirizações sem debate, sem estudo de impacto e sem assegurar a qualidade do atendimento. Se o prefeito decidir por esse caminho, comprometerá não apenas seu mandato e seu legado político, mas abrirá as portas para que a população anapolina pague, com a piora nos serviços, o preço de uma escolha equivocada.
É hora de responsabilidade. O futuro da saúde em Anápolis está em jogo, e não pode ser decidido por interesses alheios à realidade e às necessidades do município.