O líder comunitário Vilmar Kalunga (PSB) foi reeleito prefeito de Cavalcante no último domingo, 6. Ele, que é o único prefeito quilombola de todo o país, venceu a disputa contra Paradão (PRD) com 53,79% dos votos válidos, se tornando, também, o primeiro quilombola a ser reeleito prefeito no país.
A cidade de Cavalcante, localizada a 513 km de Goiânia e com cerca de 9 mil habitantes, é marcada pela presença significativa da comunidade quilombola. Segundo dados do IBGE, 3.602 quilombolas vivem na região, cuja área se estende também a municípios vizinhos. Vilmar atua em movimentos sociais já há mais de três décadas, tendo sido, inclusive, presidente da Associação Quilombo Kalunga( AQK).
Kalunga já havia feito história em 2020, quando foi eleito com 35% dos votos, sendo o primeiro representante da comunidade a ocupar a chefia do Executivo no município. Anteriormente, em 2016, ele concorreu como vice-prefeito, mas não obteve sucesso.
Nesta reeleição, o prefeito contou com uma ampla coligação, composta por partidos como PDT, MDB, PSC, PCdoB, PT, PV e União. Além de Vilmar, outro membro da comunidade quilombola se destacou nas urnas: Eriene Kalunga (PSB), que foi a vereadora mais votada da cidade, recebendo 332 votos.
Neste ciclo eleitoral, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) registrou 3.590 candidatos quilombolas concorrendo a cargos em todo o país, entre prefeitos, vices e vereadores, representando 1,3% do total de candidaturas nas eleições municipais.
Ao Jornal Opção, Vilmar Kalunga afirma que sua reeleição se deve ao “trabalho que foi feito” durante sua gestão. “As pessoas passaram a confiar e nós ouvimos as pessoas. Atendemos todos na rua, no gabinete e em todos os lugares. São pessoas humildes que tem respeito pela comunidade”, diz.
Para seu segundo mandato, Vilmar diz estar confiante. “Estou confiante pois com uma parceria com o governo federal conseguiremos avançar bem mais em várias questões. Cavalcante era uma cidade que parecia estar abandonada e avançamos bastante em infraestrutura. Agora com o governo Federal e o Governo do Estado conseguiremos fazer o que precisa ser feito”.
Comunidade quilombola
A história do Quilombo Kalunga remonta a mais de 300 anos, quando grupos de escravizados fugiram para a região do nordeste goiano, segundo um estudo da Fiocruz. Hoje, a área abriga o Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga, um território preservado que guarda artefatos arqueológicos e práticas agrícolas tradicionais em meio ao Cerrado.
Entretanto, os desafios permanecem. Conflitos agrários continuam a assolar a comunidade Kalunga, principalmente com invasões por fazendeiros da região. Desde o início dos anos 2000, o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) concedeu a titularidade de 25 mil hectares à comunidade, mas a fiscalização tem sido falha, resultando em constantes invasões. O Ministério Público Federal (MPF) interveio em 2021 e 2023, determinando a retirada dos invasores e a devolução das terras à comunidade quilombola.
A relevância internacional do território Kalunga foi reconhecida em fevereiro de 2021, quando a ONU o classificou como Território e Área Conservada por Comunidades Indígenas e Locais (TICCA), reforçando sua importância ambiental e cultural.
Plano de Governo
Em seu plano de Governo, Vilmar aborda os temas de: turismo, geração de renda e empreendedorismo, cultura, agricultura e pecuária, meio ambiente, infraestrutura, educação, comunicação, segurança pública, esporte e juventude, saúde, políticas de inclusão e diversidade, assistência social, desenvolvimento da gestão (e transparência), e integração regional.
Na síntese do documento, representantes da coligação ‘O Progresso Continua’ sintetizam dizendo que o principal objetivo é “buscar soluções para pautas sobre mudanças climáticas, racismo, soberania alimentar, direitos territoriais de povos e comunidades tradicionais, agricultura familiar, agroecologia, democratização do saber, desigualdades de gênero, raça e de classe social, potencializar a evolução de índices e a construção de uma sociedade harmônica, justa e apta a um real progresso”.