A tribuna da Câmara Municipal de Anápolis foi palco, nesta segunda-feira, de um movimento que, à primeira vista, soa como um esforço por transparência. O vereador Domingos de Paula subiu à tribuna para propor a abertura de uma Comissão Especial de Investigação (CEI) destinada a acompanhar os desdobramentos da Operação Máscara Digital.
Para quem ainda não sabe, a operação, deflagrada pela Polícia Civil, desarticulou uma rede criminosa especializada em crimes virtuais, que utilizava perfis falsos nas redes sociais para difamar, perseguir e atacar adversários políticos e figuras públicas. Uma verdadeira fábrica de ódio e desinformação, operando nas sombras com o objetivo claro de manipular a opinião pública e proteger determinados interesses.
A iniciativa de Domingos, no entanto, soou tardia e oportunista. Isso porque, em 2023, o vereador Policial Federal Suender já havia proposto a abertura de uma CEI da Publicidade, com o objetivo de investigar contratos milionários da gestão do ex-prefeito Roberto Naves, suspeitos de alimentar estruturas paralelas de comunicação e propaganda. Na época, Domingos de Paula, então presidente da Câmara, não só ignorou o pedido como parece ter atuado para impedir sua criação.
Hoje, com a operação em andamento, o ex-secretário Luiz Gustavo foi exonerado pelo atual prefeito Márcio Corrêa. Vale lembrar que Luiz também ocupou cargo de secretário da mesma pasta na gestão de Roberto Naves. Domingos agora tenta se reposicionar. Mas a tentativa soa ensaiada, oportunista e, sobretudo, incoerente.
Ao rebater Domingos, o vereador Suender foi categórico. “Se há mesmo interesse em investigar, que se investigue tudo. O ontem e o hoje”. Afinal, pau que dá em Chico, dá em Francisco. A moralidade pública não pode ser seletiva, nem usada como ferramenta política apenas quando convém.
A população anapolina está cansada de encenações e discursos vazios. Chegou a hora de fazer o que não foi feito em 2023, e que só agora está sendo colocado na pauta por pressão: investigar com seriedade, sem blindagens, sem conchavos e sem teatro. A nova CEI não pode ser apenas um gesto político para “cumprir tabela”. Ela precisa ser um verdadeiro compromisso com a justiça e a verdade.