Nos bastidores da política goiana, uma realidade começa a se consolidar: o Partido Liberal (PL) não está disposto a entrar em rota de colisão com a máquina do governo estadual. Embora o governador Ronaldo Caiado demonstre preferência pessoal pelo nome de Wilder Morais como seu sucessor, é pouco provável que ele manifeste publicamente esse apoio de maneira incisiva, pelo menos por enquanto. O xadrez político exige cautela, e Caiado sabe jogar.
Há especulações de que, caso Wilder avance com sua candidatura ao governo, Caiado poderá optar por uma postura mais equidistante, distribuindo apoio de maneira estratégica. Uma das alternativas em estudo seria indicar um nome para vice em mais de uma chapa, garantindo influência independente do resultado das urnas. Nessa lógica, José Mário Schreiner e Adriano Rocha Lima são cotados para compor a chapa de Wilder Morais, enquanto o nome de Major Vitor Hugo surge como possibilidade para a vice na chapa de Daniel Vilela.
Apesar dessas movimentações, o cenário mais concreto aponta para o PL compondo com Daniel Vilela, atual vice-governador, como principal opção. Daniel, inclusive, pode deixar o MDB e se filiar ao União Brasil, consolidando-se como um nome viável para disputar o governo em 2026 com o apoio do grupo caiadista.
A verdadeira prioridade do PL, no entanto, parece estar longe do Palácio das Esmeraldas. E essa escolha estratégica tem uma justificativa clara: com Jair Bolsonaro inelegível, e com fortes chances de se manter assim, ou até mesmo enfrentar uma condenação judicial que o leve à prisão, o partido passou a concentrar todos os seus esforços na manutenção e ampliação de seu poder no Congresso Nacional. Sem uma liderança nacional competitiva para disputar a Presidência, o PL sabe que o verdadeiro centro de poder no atual modelo político está no Legislativo.
O objetivo estratégico do partido é claro: conquistar uma vaga ao Senado por Goiás e ampliar significativamente sua bancada de deputados federais. E nesse cenário, o PL pode sair muito bem-sucedido. Caso consiga emplacar o nome de Major Vitor Hugo como vice de Daniel Vilela, garantir a vaga ao Senado e ainda sair das urnas como o partido com o maior número de deputados federais eleitos por Goiás, terá consolidado um tripé de poder regional e nacional. Uma estratégia que evita o desgaste de disputar diretamente o Executivo estadual, mas amplia o capital político onde ele mais importa, em Brasília.
Para um Estado que representa apenas cerca de 3% do eleitorado nacional, conquistar o Executivo estadual é, para o PL, um bônus, não uma prioridade. Ter influência direta sobre o Legislativo federal, especialmente em tempos de orçamento secreto, emendas bilionárias e articulações parlamentares complexas, é o verdadeiro trunfo de qualquer partido que pretenda ter poder real nos próximos anos.
Enquanto isso, a legenda seguirá jogando com inteligência, mantendo-se relevante no tabuleiro, sem se expor desnecessariamente, sempre com um olho em 2026 e outro em Brasília.